Coordenação do Curso de Pedagogia
Mudanças e desafios
Não é fácil caracterizar o pedagogo existente em nossos estabelecimentos educativos como agente de mudança. A complexidade crescente dos sistemas de ensino tem alargado as dimensões da atuação de todos os educadores e daqueles que exercem algum tipo de liderança junto aos professores. Diante destas mudanças que vem ocorrendo em relação ao novo profissional da Pedagogia, o pedagogo também está sendo formado para exercer a função de docente na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Percebe-se que as mudanças sem precedentes que vêm ocorrendo nos últimos anos em toda a sociedade não tiveram suficiente eco nas instituições educacionais e no desempenho dos professores. Tudo o que se tem tentado nos cursos de capacitação profissional, nos últimos anos, explicita o grande esforço para fazer com que o professor assuma uma nova postura na sala de aula, aprenda a processar o saber universal disponível e tenha acesso à renovação desse saber. E, com a nova estrutura para a formação de docentes dentro do curso de Pedagogia a expectativa é que ocorra mudanças significativas, porem não se deve esperar que elas venham em tempo curto. Elas irão surgir a médio e longo prazo.
No entanto, hoje, o bom profissional não é o que sabe, é o que está sabendo, isto é, o que está continuamente aprendendo, renovando e reformulando seu conhecimento.
As transformações, hoje, são tão rápidas que a grande tarefa da educação é assumir o desafio de acelerar o ato de aprender e atender à necessidade da renovação do aprendido logo em seguida, a fim de evitar a fossilização precoce das idéias e da práxis.
Para bem exercer a profissão, sintonizado com o momento histórico, cada educador precisa estar disposto a realizar permanentes investimentos em sua qualificação: comprar livros, assinar revistas especializadas; disponibilizar tempo para estudo; construir uma disciplina pessoal que favoreça sua atualização continuada e permanente.
A atualização permanente está longe de ser a panacéia que vai resolver todos os problemas do ensino em nossas escolas. Somente a capacitação em serviço não é condição suficiente para produzir as mudanças necessárias que a legislação vigente e a sociedade requerem.
As Instituições responsáveis pela formação do pedagogo devem oferecer cursos ou seminários periódicos aos alunos egressos, ouvindo-os em suas dificuldades e ajudando-os a nortearem seu desempenho com mais eficiência. Às vezes, enfrentam obstáculos descomunais, para os quais não se sentem preparados e não têm a quem recorrer. Poucos voltam à faculdade em busca de novos caminhos, muitos desistem ou acomodam-se a um ativismo estressante, sem obter sucesso algum, desqualificando a própria função.
A efetivação de qualquer mudança começa com a competência em administrá-la em si próprio e em seu cotidiano. Educar-se é a primeira parte da tarefa. Naturalmente, vai exigir esforço pessoal e grande dose de boa vontade para conhecer o próprio potencial e aprender a utilizar as inteligências dominantes livremente. Quando conhecemos nossas potencialidades, podemos fazer escolhas mais conscientes e equilibradas.
Realizar experiências de mudança na escola é acreditar no poder de criação de cada profissional, é manter-se aberto às novas idéias, é prover ambiente estimulador ao crescimento de todos. É muito mais difícil do que identificar erros, detectar problemas educacionais ou apontar culpados.
Os principais ingredientes da mudança são ousadia e simplicidade. Ousar é fazer diferente e melhor o que já se sabe fazer bem, com simplicidade. Não implica tirar coisas, e, sim, transformar a prática, a escola, as pessoas.
Cooperação: a base do sucesso
Hoje em dia, a atuação do pedagogo/professor na escola é de grande importância e precisa acontecer enfatizando, simultaneamente, dois pólos distintos:
· Construir a equipe de trabalho – com enfoque na inteligência emocional, no querer fazer, na liderança para servir.
· Qualificar a equipe – com enfoque maior no cognitivo, no saber fazer, no estudo e na atualização permanente da equipe de professores.
Cada pedagogo/professor, em seu contexto, deve buscar seus próprios caminhos para efetivar sua proposta de trabalho, a fim de promover o aprimoramento da ação docente e as mudanças significativas na escola.
Segundo Paulo Freire, “as experiências não se transplantam, realizam-se”. Não há que ficar esperando alguém fazer algo, para então colocar a mão na massa. O importante é compreender que o erro faz parte de todo processo de crescimento e que só não erra quem não faz, quem vive se repetindo numa rotina interminável.
É fundamental aprender a acompanhar a prática do pedagogo/professor, ajudando mutuamente nas dificuldades, assessorando na efetivação da qualidade do ensino para todos, reconhecendo e valorizando todo o esforço, se preocupando, sobretudo, com a integração da escola na comunidade.
Ao iniciar as atividades numa escola, a primeira preocupação do pedagogo/professor deve ser com a construção e integração da equipe de trabalho: uma equipe competente, forte o bastante para implementar experiências de mudança no fazer da escola; uma equipe coesa, capaz de trabalhar por objetivos comuns, ou seja, conseguir que todos estejam comprometidos com os mesmos propósitos, empenhados em realizar a proposta educativa explicitada no projeto político-pedagógico, compartilhando riscos e desafios, confiando nos colegas de equipe, no exercício do respeito mútuo.
Para tanto, deve-se estabelecer uma linha de ação, utilizando dinâmicas de grupo como ferramenta, no intuito de focar a pessoa do educador e do educando; procurar facultar vivências individuais, em duplas, até chegar ao coletivo, numa busca de singularizar, de marcar as diferenças no que cada um tem de mais positivo, tornando cada um sujeito da própria ação.
Participação é a palavra-chave nesse processo. O ser humano é um ser gregário, social. A opinião do outro é importante e lhe confere respaldo para se sentir bem e inovar com mais segurança, apoiado na aprovação do colega. Trabalhar, muitas vezes, significa assumir riscos e colocar à prova os próprios limites, as próprias capacidades, buscando cumprir os objetivos elaborados e assumidos por todos, demonstrando coragem e determinação. Daí a importância da equipe. As habilidades se complementam, e o grau de cooperação vai aumentando à medida que a equipe se consolida.
Uma ação em equipe é importante porque conta com a sinergia do grupo, quando o resultado da soma das opiniões individuais é maior do que cada idéia isoladamente, por melhor que esta seja. A essência da sinergia está em valorizar as diferenças existentes na equipe. As opiniões divergentes são respeitadas, e a comunicação é clara e objetiva. Todos prestam atenção à sua forma de trabalhar, procuram resolver os problemas que afetam o funcionamento da escola com mais comprometimento, substituindo o imperativo “tem de fazer” pelo “precisamos fazer”.
No entanto, grupo e equipe diferenciam-se significativamente. Grupos existem em quase todas as escolas e, muitas vezes, até ostentam a denominação de equipe, indevidamente. A organização de trabalho estanque e multidisciplinar, que ainda impera na maioria das instituições, favorece a existência de grupos que operam com muito individualismo, às vezes, até com certa competitividade predatória.
A construção da equipe significa plantar a igualdade entre os profissionais — pessoas comprometidas e capazes de perseguir objetivos comuns, assumidos por todos, com a intenção de criar para aquela escola o currículo ideal e específico, que produza o ensino de qualidade para todos.
O dia-a-dia no trabalho torna as relações muito profissionais, de forma que nem nos permitimos uma aproximação com as pessoas. Algumas vezes, somos acometidos por cegueira, presos ao narcisismo ou ao egoísmo, impossibilitados de exercitar o “dar” e o “receber”, indispensáveis à consumação de tarefas coletivas.
No processo de construção da equipe forte, coesa, capaz de perseguir objetivos comuns, acreditar nas pessoas é fundamental. É, talvez, a atitude que mais fortalece o pedagogo/professor: acreditar nas possibilidades do grupo para o enfrentamento dos problemas que vão surgindo, cultivar a crença de que somos capazes, aceitando a decisão coletiva na priorização das ações, mesmo que seja uma variação da própria idéia. Sem confiança mútua, não haverá parceria, cumplicidade nem trabalho de equipe.
O pedagogo/professor, no papel de docente, deve incentivar e favorecer a formação de subgrupos entre os colegas/professores, para estudo, pesquisa e aperfeiçoamento profissional. Aos poucos, toda a equipe aprende a se entusiasmar, realimentando-se com o próprio sucesso, e começa, por homologia dos processos, a também entusiasmar alunos e suas famílias em relação aos objetivos da instituição.
Um constante recomeçar em cada Escola
O pedagogo/professor será bem-sucedido à medida que for aceito, respeitado e compreendido pela escola que o recebe e o apóia. O significado inicial do seu trabalho está no valor que lhe é atribuído pelo próprio sistema e pela comunidade. A partir dessas boas-vindas, é seguir em frente com coragem e determinação. Há que se fazer por merecer e confirmar as expectativas em relação ao trabalho que realiza.
As inúmeras exigências impostas à escola atualmente e a carência de professores qualificados vêm ampliando o campo de ação e exigindo um esforço cada vez maior no sentido de aprender a colocar o amor e o respeito mútuo em seu convívio diário e de promover a mudança e a inovação de que a escola necessita, com garra e determinação. Os conhecimentos e as habilidades requeridas para esse trabalho prescrevem-lhe permanente aprendizagem.
O pedagogo/professor precisa aceitar sua parcela de responsabilidade e compromisso com a equipe desde o início. Sua ação junto a estes deve ser semelhante a uma potente locomotiva, puxando todos para o movimento, para a ação continuada e na direção certa.
O poema “Mãos dadas” de Carlos Drumond de Andrade fala que não se pode ser um poeta de um mundo caduco e nem cantar o mundo futuro, mas é preciso estar atento à vida e aos olhos dos companheiros para que se possa nutrir esperanças, andar de mãos dadas, pois o tempo é nossa matéria, o tempo é presente, os homens presentes, alunos presentes, a vida presente. Consequentemente, as transformações devem ocorrer de forma dinâmica, desafiadora, crítica e criativa, promovendo um ensino significativo, integrador e consistente, pois o ensino é um empreendimento que é produzido no processo ativo do ensino e da aprendizagem e requer profissionais envolvidos, atuantes, flexíveis e que se dispõe compartilhar saberes e experiências de forma afetiva, efetiva e equilibrada, produzindo o criar e o recriar permanente.
“... O real não está na saída nem na chegada; ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.” Guimarães Rosa
Se nós não inventarmos o novo, o novo se criará sem nós..... ( Paulo Freire)
BIBLIOGRAFIA:
· MG. Secretaria Estadual de Educação. Reflexões sobre a Prática Pedagógica. Elaboração: Elza Vidal de Castro, Maria do Carmo Mata e Ângela Imaculada L. F. Dalben. Belo Horizonte: SEE/MG, 1997
· BOM TEMPO, Luzia. O Pedagogo na Escola. Texto de Palestra proferida no Encontro de Pedagogos do Estado de Minas Gerais,